"Os Velhos"
Todos
nasceram velhos — desconfio.
Em
casas mais velhas que a velhice,
em
ruas que existiram sempre — sempre
assim
como estão hoje
e
não deixarão nunca de estar:
soturnas
e paradas e indeléveis
mesmo
no desmoronar do Juízo Final.
Os
mais velhos têm 100, 200 anos
e
lá se perde a conta.
Os
mais novos dos novos,
não
menos de 50 — enorm'idade.
Nenhum
olha para mim.
A
velhice o proíbe. Quem autorizou
existirem
meninos neste largo municipal?
Quem
infrigiu a lei da eternidade
que
não permite recomeçar a vida?
Ignoram-me.
Não sou. Tenho vontade
de
ser também um velho desde sempre.
Assim
conversarão
comigo
sobre coisas
seladas
em cofre de subentendidos
a
conversa infindável de monossílabos, resmungos,
tosse
conclusiva.
Nem
me vêem passar. Não me dão confiança.
Confiança!
Confiança!
Dádiva
impensável
nos
semblantes fechados,
nos
felpudos redingotes,
nos
chapéus autoritários,
nas
barbas de milênios.
Sigo,
seco e só, atravessando
a
floresta de velhos.
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