Operário, 1933 - Tarsila do Amaral |
"IGUAL-DESIGUAL"
Eu
desconfiava:
todas
as histórias em quadrinho são iguais.
Todos
os filmes norte-americanos são iguais.
Todos
os filmes de todos os países são iguais.
Todos
os best-sellers são iguais.
Todos
os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos
os partidos políticos
são
iguais.
Todas
as mulheres que andam na moda
são
iguais.
Todas
as experiências de sexo
são
iguais.
Todos
os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e
todos, todos
os
poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.
Todas
as guerras do mundo são iguais.
Todas
as fomes são iguais.
Todos
os amores, iguais iguais iguais.
Iguais
todos os rompimentos.
A
morte é igualíssima.
Todas
as criações da natureza são iguais.
Todas
as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo,
o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
coisa.
Não
é igual a nada.
Todo
ser humano é um estranho
ímpar.
Por Carlos Drummond de Andrade
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